sábado, 8 de novembro de 2008


Aquele surfista me parou. Me segurou pelo braço. Me encostou na parede. Deixou minhas pernas bambas. Meu coração disparado. Parou meu mundo por um segundo. Com aquela pele bronzeada. Aquele cabelo castanho claro atrapalhado. Aqueles olhos cor de mel. Aquela boca com gosto de “te quero”. E aqueles braços fortes pedindo “me beija”. Aquele sorriso de um lado só da boca. Meio tímido, meio tarado. E completamente apaixonante.Bastou um olhar pra eu achar que ele valia a pena. Não era um olhar qualquer. Era aquele olhar que me arrancava a roupa em pensamento. Sem pudor. Em público. Estático. Um olhar que me deixou seca. Que me tirou do prumo. Que fez eu esquecer que nós dois estávamos respectivamente acompanhados. Fez eu lembrar que eu preciso da emoção. Do desafio. De alguém pra quem olhar e pensar: é você que eu quero agora. Preciso ter você pra mim.E aquele surfista era a materialização de tudo que eu queria. Aquela cara de mau, aquele olhar de menino. Definitivamente, não era o genro que minha mãe pediu a Deus. Mas certamente era o cara que minhas amigas pediriam emprestado se eu o tivesse pra mim. Se eu o tivesse. Por mais de um segundo. Por mais do que aquelas noites breves. Por mais do que aquelas conversas virtuais. Aqueles papos infindáveis na webcam. Eu até aprenderia a surfar. Trocaria meu bronzeado-de-piscina-do-interior-longe-da-praia pela cor dourada das ondas do mar. Trocaria os dias cinzas na metrópole pelo pôr-do-sol na beira do mar. Pelo céu azul de lápis de cor. Trocaria todas as minhas neuroses, minhas dores de cabeça, meus problemas existenciais por aquele surfista na areia da praia. E minha maior preocupação seria com o tamanho das ondas. Com o Sol. A Lua. A chuva. As nuvens. E as estrelas. E tudo mais que se classifique como fenômeno da natureza.Mas, sem dúvida, aquele surfista é o maior de todos os fenômenos. Um eclipse na minha vida que só acontece de tempos em tempos. E que ganha matéria de capa. Primeira página. Rouba a cena. E me rouba de onde eu estiver. Me faz largar tudo. Jogar tudo pro alto. Porque ele é um espetáculo à parte. E me tem sentada na primeira fila. Ali. Babando. Rindo com aquela cara boba quando ele me chama de linda. Ficando com as bochechas rosadas quando ele diz que me quer. Sentindo um arrepio na espinha quando ele fala que vai me agarrar.Faz isso. Me agarra. Me joga em cima dessa prancha sua. Me leva pra alto mar. Me tira o fôlego e me faz respiração boca-a-boca. Se não souber, eu te ensino. E você me ensina a surfar. A gente tem mesmo muito o que aprender um com o outro. Somos de mundos diferentes. O Sol e a Lua. O garoto da praia e a patricinha caipira. O garoto do mundo e a menina do interior. Suas havaianas e meu salto agulha. Seus cabelos que nasceram castanhos e os meus que se tornaram Vermelho Rubi 664. Sua prancha de surfe e meu celular a tiracolo. Suas bermudas floridas e minhas calças jeans. Seu jeito leve de viver a vida e minha correria do dia-a-dia. Suas manhãs na praia e minhas noites na internet. O surfista e a marombeira.Foge comigo pra uma ilha deserta?

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